Por muito tempo, a urbanização foi inimiga do meio ambiente. Mas a recíproca não é verdadeira: a natureza é um importante indicador da qualidade de vida urbana. As cidades têm de fazer as pazes com a natureza, para o bem das pessoas e para sua própria sustentabilidade e resiliência.
Há muita coisa acontecendo de forma inovadora,movimentos crescentes de lideranças que começaram a transformar espaços públicos, a fazer visitas a rios ocultos, o que tem chamado a atenção de muita gente. Plantio de floresta de bolso, tirar gramado e plantar floresta, muitas ações e projetos vindos da população estão ganhando adesão e aumentando a conexão das pessoas com a natureza. Porém, existem barreiras no “pensar das cidades”, um sistema de comando verticalizado e de exclusão. Há muita dificuldade para sairmos do modelo em que estamos e que domina os espaços de poder e decisão. Sendo assim, é muito mais difícil ainda concretizar demandas da sociedade.
É fundamental recuperar e conectar os sistemas naturais para proteger a água, o verde e a vida, tanto fora quanto dentro das cidades. A infraestrutura sustentáveldesponta como parte do caminho de recuperação das economias globais que sofreram um novo abalo com a pandemia da Covid-19. “A Europa está na frente com seu “Green Deal”, que se tornou um dos focos para o continente sair da crise. Com isso, as soluções baseadas na natureza estão ganhando uma potência muito maior”, afirma a paisagista urbana Cecília Herzog, que dedicou as últimas duas décadas a pesquisar caminhos para essa reconciliação e que faz muitas das observações abaixo em entrevista recente, no artigo citado.
A saúde humana depende da qualidade ambiental das cidades. A mortalidade por conta de poluição é muito alta, fora outros impactos mais difíceis de contabilizar. Não é só uma questão de tornar a cidade mais resiliente frente aos desafios trazidos pelas mudanças climáticas, com chuvas cada vez mais fortes e intensas, frequentes ondas de calor, escassez de água, problema de alimentos. Estudos vários mostram que quando se reintroduz natureza na cidade, diminui o estresse, a criminalidade, melhoramos a qualidade de vida em geral.
A urbanização advinda do século XX é monofuncional. As soluções baseadas na natureza são multifuncionais, oferecem diversos serviços ecossistêmicos. Por exemplo, acomodação das águas: vamos fazer abertura de espaços como jardins de chuva para acomodação de água cujo serviço ecossistêmico principal é o manejo de água. Ao mesmo tempo, recarrega aquífero e melhora a qualidade da água, do ar, capta carbono, resolve a poluição difusa.
Quando pensamos em soluções multifuncionais, com diversas soluções aplicadas na mesma área, buscamos sistemas que sejam redundantes, em que, se uma parte no sistema falha, entra outro componente que mantém o funcionamento do sistema. Para isso é preciso planejamento e projetos integrados e sistêmicos.
Uma das soluções possíveis é o que a cidade de Barcelona tem hoje: uma agência de ecologia urbana que coordena as secretarias da cidade, pois a ecologia urbana é o que determina a qualidade de vida. É uma mudança de visão da cidade, que deve ser entendida como um sistema composto de vários subsistemas, que têm de estar funcionando juntos. Tem de haver uma coordenação que entenda a cidade como um grande sistema, onde tudo está interligado. É complexo certamente e imprescindívelter gente capacitada, que consiga transitar por diversos sistemas para entender como eles interagem.
Uma das bases para se trabalhar com soluções ligadas na natureza é a cocriação, coparticipação e a coprodução. Se isso não acontece, não conseguimos fazer com que os projetos sejam de fato sustentáveis. Quando inserimos as pessoas, encontramos soluções de dentro para fora. É necessário chamar as pessoas à mesa e envolvê-las para terem capacidade de escolha. Se, por exemplo, o córrego que passa na porta de um munícipe está cheio de esgoto, fede, traz doença, ele vai querer tampar o córrego. Então temos que dar a opção de ter água limpa na porta da casa, tirando o esgoto dali.
Neste momento desafiador, temos a chance de incluir na retomada econômica a inadiável reconciliação com o meio ambiente de que também somos parte.
Fonte: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2020/06/solucoes-baseadas-na-natureza-podem-tornar-infraestruturas-urbanas-verdes-e-resilientes
