Em isolamento, percebemos que há muitos espaços próximos de nós, para os quais nunca nos atentamos. Afinal, o dia a dia nos consome em rotinas intermináveis e quando vemos, a vida passou. Dentro e no entorno das casas, ao olhar pela janela ou na saída temerosa para a rua, o nosso olhar está mais aguçado.
A construção e o desenho das cidades têm sido, na maioria das vezes, vinculados às atividades econômicas e preponderantes, tomando uma dimensão em que a qualidade de vida é muito questionável.
Atualmente, a calçada urbana pode ser considerada um dos indicadores de desenvolvimento humano. Uma recente avaliação em passeios de 835 ruas de 27 capitais brasileiras mostraram que nenhuma obteve padrão de qualidade. No nosso município, não é diferente.
Desde que as cidades deixaram de ter muros altos para evitar invasões (idade medieval) e passaram a ser projetadas e construídas para abrigar pessoas e seus carros, as calçadas têm entre as suas principais funções, o trânsito de pedestres. Sua mais recente evolução arquitetônica, além da fiação elétrica subterrânea (nem sempre possível), cuida de facilitar acesso a cadeirantes e deficientes visuais. Essas funções sociais exigem uma largura mínima da calçada.
É claro que existem normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), orientações do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), legislação e planos municipais, como também normativas para diferentes loteamentos.
No entanto, é só andar por aí e o que vemos não pode agradar. Em bairros novos a situação piora, onde muitas calçadas são tomadas totalmente por rebaixamentos de guia e entradas em garagens. São estreitas, sem local para árvores e com tantos desníveis que sem limitações físicas, fica impossível caminhar com tranqüilidade. Para cadeirantes, deficientes visuais, gestantes e idosos, por exemplo, calçadas podem significar exclusão. Podemos observar também pisos quebrados, postes no meio, ausência de rampas e desníveis.
Calçadas podem ser mais bonitas e agradáveis, devem ser construídas ao longo dos logradouros, a partir do alinhamento do meio-fio, sem descontinuidade ou desnível, formando um passeio contínuo para a circulação dos pedestres. No sentido transversal, devem ter pequena declividade para o leito da rua (1 a 2 %), para escoamento natural das águas de chuva. Elas devem estar livres de obstáculos e desníveis, sendo que, em muitas cidades, o não cumprimento destas normas pode resultar em multa para o proprietário.
Os pisos devem ser resistentes. Alguns dos materiais mais recomendados são: blocos inter-travados, placas pré-moldadas de concreto, ladrilhos hidráulicos, pedras portuguesas e concreto liso ou estampado. Se a calçada fizer parte de um monumento histórico da cidade, deve ser mantida na sua originalidade.
Em locais de muito trânsito, como nas áreas centrais, fica difícil manter um espaço verde, mas pode-se atentar para a presença de árvores. Dependendo do lugar, em locais de menor trânsito, o piso pode ser utilizado em belas combinações com gramas, tosetos, pedriscos ou outros, que além da bela estética, permitem boa drenagem.
Nestes locais, onde serão implantados espaços verdes, a calçada ideal pede uma circulação com largura mínima de 1,20 m. O cálculo ainda prevê uma área permeável, portanto acrescente, no mínimo, mais 0,70 m para a grama, junto à guia.
Para a colocação de árvores é interessante verificar a recomendação existente no Plano de Arborização Municipal, pois acada cidade possui uma legislação indicando os exemplares nativos e exóticos mais recomendados.
Temos muitas pesquisas e publicações para que dentro de um planejamento urbano estratégico possamos requalificar áreas já existentes e qualificar os bairros novos. O tema merece nossa atenção.
As calçadas fazem parte do cenário urbano. Torná-las menos agressivas é possível.
Fonte:
Artigo: Se essa rua fosse minha, de José Luiz Viana Couto. Blog: http://agronomos.ning.com/m/blogpost?id=3071024%3ABlogPost%3A322518