Em sua casa em Melbourne, na Austrália, o farmacêutico Ângelo Elíades tem um jardim de 80 metros quadrados, onde decidiu fazer uma horta-pomar incrível, de onde colhe mais de 200 kg de alimentos por ano. Entusiasta do plantio urbano ele provou que é possível usar espaços dentro da cidade para produzir alimentos saudáveis. Ao todo são 30 árvores frutíferas, dezenas de plantas medicinais e muitos outros vegetais. Flores e plantas ornamentais também fazem parte da “fazenda” criada pelo farmacêutico. O ousado e belíssimo jardim já virou ponto turístico da região e produz cerca de 14 kg de alimentos todos os meses.
As fazendas urbanas surgiram da união de agregar espaços de concreto com as áreas verdes voltadas para a produção agrícola. Não há um conceito sólido sobre o tema, porém percebemos o movimento crescente e iniciativas defendidas por muitos especialistas, ganhando adeptos ao redor do mundo. No Brasil, o conceito de fazenda urbana ainda é muito recente.
Na visão do pesquisador e ex-presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Maurício Lopes), o movimento de urbanização da produção de alimentos pode ser uma oportunidade para repensar as cidades agrícolas. Ele questiona porque cidades como Sinop e Sorriso (MT) não levam a agricultura também para dentro da cidade e trabalham a educação de jovens, por exemplo.
Realmente não faz sentido termos municípios com extensas áreas com potencial de produção,importando o alimento do dia-a-dia de outros locais, com tantas pessoas ali na borda da cidade excluídas. É uma oportunidade de bem-estar, de esverdear as cidades, de lidar melhor e dar finalidade correta aos resíduos que geramos. É dar oportunidade de as pessoas terem contato com o alimento. Por mais que a cidade nos ofereça atrativos, estamos sempre querendo essa relação com a natureza. Isso faz parte da atividade humana.
Essencialmente, são duas as formas de produção agrícola identificadas nas fazendas urbanas: produção horizontal e vertical. A produção horizontal constitui-se da aplicação do método convencional, que faz uso de solo em vazios urbanos, espaços públicos e privados, coberturas de edifícios, em ambiente aberto ou protegido. Por outro lado, a produção agrícola vertical faz uso de técnicas com o objetivo de sobrepor a produção na mesma área, ou seja, intensifica a produção por meio do uso do espaço aéreo sobre o solo.
Localizadas em meio à cidade, as fazendas urbanas podem economizar em logística e transporte de alimentos, tornando sua produção ainda mais sustentável. Este é apenas um dos benefícios apontados por Dickson Despommier, da Universidade de Columbia (EUA), um dos pioneiros quando se trata de fazendas verticais. Segundo ele, um edifício de 30 andares de plantação é suficiente para alimentar 10 mil pessoas. A tecnologia para isso já existe, só falta ser colocada em prática.
A implantação de fazendas urbanas poderia melhorar significativamente a segurança alimentar do país.Para tanto, são necessárias mudanças culturais e sociais significativas para alcançar esse enorme potencial de cultivo nas cidades. Um novo paradigma vem surgindo: cidades inteligentes para alimentação.
Fontes:
https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2019/07/novas-fazendas-urbanas.html