De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), temos 12 mil rios percorrendo o território brasileiro em doze bacias hidrográficas.
Sabemos que as civilizações antigas tinham como principal critério para estabelecer suas aldeias, a proximidade da água. Por muito tempo os rios se constituíram como principal fonte de transporte e energia destas populações. Contudo, com a industrialização das áreas urbanas, muitos rios sofreram com o despejo de dejetos e doenças, tornando-se perigosos. Quando não eram vislumbrados como úteis, eram desviados, cobertos, colocados para baixo da terra e esquecidos.
Portanto, temos uma relação com aproximações e antagonismos sucessivos, materializados de forma distinta ao longo do tempo. Algumas de nossas comunidades ainda vivem em total integração com o ambiente fluvial, em que a água se presta ao banho, é usada para cozinhar as refeições, para a agricultura e às atividades de lazer e convívio.
Com poucas exceções, a relação harmoniosa de encontro da população com o rio ocorreu até a metade do século XX, no Brasil. A partir daí, a poluição e a dificuldade de acesso às áreas ribeirinhas foram expulsando a população de suas margens. A cidade foi se transformando, o sistema viário passou a dominar o desenho urbano, subjugando o meio físico; rios e córregos, que muitas vezes foram retificados e canalizados. Fica evidente que decisões focadas no sistema viário subestimaram a complexidade dos sistemas fluviais.
A partir da década de 1960, surgiram os primeiros movimentos de questionamento e reflexão sobre a relação entre a sociedade e o ambiente natural, onde as discussões contribuíram para a revisão dos paradigmas de crescimento e para a disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável. Em países desenvolvidos, metrópoles de grande complexidade deram início à recuperação de áreas degradadas e de seus principais corpos d’água.
O texto da Constituição Brasileira de 1988 considera que a água é um bem público e a bacia hidrográfica uma unidade de planejamento e gestão. Pautados por estes novos paradigmas, os planos diretores, lei máxima de planejamento dos municípios brasileiros, de modo geral, inseriram em seu conteúdo a recuperação de fundos de vale. A legislação evoluiu para uma perspectiva de descentralização. Os comitês de bacia hidrográfica são um exemplo, como o do nosso PCJ (bacia Piracicaba,Jundiaí, Capivari ).
Reintegrar os rios urbanos na paisagem e fornecer uma relação humana com a água de forma includente são desafios para as cidades brasileiras. As ações de intervenção estão fundamentadas nos princípios conceituais da sustentabilidade e da infraestrutura verde, que visam reestruturar as características do rio urbano.
A artificialidade da cidade precisa se harmonizar com os aspectos naturais, ganhando ao melhorar o seu conforto, a qualidade do ar, a permeabilidade e sua salubridade. O meio ambiente é convidado a participar da rotina urbana de forma equilibrada. Esses ganhos podem atingir também a escala regional, uma vez que a água deixa de ser poluída no meio urbano e passa a abastecer a sua bacia hidrográfica com uma melhor qualidade, favorecendo todos que dela dependem para viver.
Os planos de recuperação de sistemas fluviais exigem projetos e investimentos de longo prazo. A visão sistêmica, que deve estar por detrás de planos desta natureza, inclui não apenas a escala do município, mas a da bacia hidrográfica, que pressupõe comitês compostos por todos os municípios que integram a bacia. Ainda assim, os ganhos pontuais, obtidos na escala do município, como a revitalização das áreas de influência dos rios, atraem investimentos, criam oportunidades de trabalho para a comunidade, promovem a valorização local, criam um espaço público mais humanizado e acolhedor, e a conscientização e envolvimento da sociedade civil, rumo a uma relação mais harmoniosa entre rios e cidades.
Fontes:
- http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2632/1/Maria%20Cecilia%20Barbieri%20Gorski1.pdf
- https://www.archdaily.com.br/br/01-157515/reivindicar-os-rios-a-ultima-tendencia-no-urbanismo
- https://www.caurs.gov.br/rios-urbanos-reencontro-com-as-aguas-e-com-a-vocacao-das-cidades/
- https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-86212017000400305